sábado, 18 de julho de 2009

MACHADO DE ASSIS CANDIDATO?

Em 1865, os liberais chegam ao poder e Saldanha Marinho, diretor do Diário do Rio de Janeiro, é nomeado presidente da província de Minas. Político liberal, Saldanha Marinho foi a primeira pessoa a assinar o Manifesto Republicano de 1870. Assim como José de Alencar, ele também cortara relações com D. Pedro II, pois este o havia preterido para o cargo de senador. Anticlericalista radical e chefe maçom, Saldanha Marinho desempenhou tão bem seu cargo de presidente da província de Minas, que Zacarias o nomeou para governar a província de São Paulo, onde permaneceu até outubro de 1867, quando subiram ao poder os conservadores. Machado de Assis, enquanto foi funcionário do Diário do Rio de Janeiro, freqüentou-lhe muito a casa, onde conheceu diversas personalidades políticas da corte. Saldanha Marinho faleceu no ano de 1895.
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Em Ouro Preto, Saldanha Marinho tem como seu secretário particular Henrique César Múzzio, outro funcionário do Diário do Rio de Janeiro e amigo de Machado de Assis. Durante algum tempo, o jornal fica sob a direção de Quintino Bocaiúva, mas em breve este também teria de se afastar para cumprir uma missão nos Estados Unidos. Com isso, Machado vê seu trabalho aumentar enormemente, pois todo serviço agora passa a acumular sobre as suas costas. Mas o aumento de trabalho não veio acompanhado de um acréscimo em seus vencimentos. É tanto serviço e tão mal remunerado, que Joaquim Maria começa a pensar seriamente em sair desse emprego. Para sobreviver, faz traduções para seu amigo Furtado Coelho, como O Anjo da Meia-noite e O Barbeiro de Sevilha, além de traduzir o romance de Victor Hugo, Os Trabalhadores do Mar, publicado em folhetim pelo Diário do Rio de Janeiro entre março e julho de 1866.

O jornal Opinião Liberal, que mais tarde seria transformado em A República, era dirigido por Rangel Pestana e Limpo de Abreu. No dia 12 de maio de 1866, na seção “Jornal de Confúcio”, publicou a seguinte notícia:
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“CANDIDATOS À FUTURA CÂMARA DOS DEPUTADOS

O Sr. Sizenando Nabuco pelo 3o. distrito do Rio de Janeiro.
O Sr. Conselheiro Pedrosa pelo 4o. distrito da mesma província.
O Sr. Quintino pela Corte.
O Sr. Machado de Assis pelo 2o. distrito de Minas.
O Sr. José Caetano dos Santos teima em ser candidato pela corte.”

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Teria Machado de Assis se candidatado a deputado para a legislatura de 1867-68? Teria em sua juventude acalentado o sonho de entrar para a política? É provável que em seu íntimo ele nutrisse com carinho essa idéia, apoiada pelo fato de que muitos de seus personagens entraram para a Câmara dos Deputados. Todavia, a sua natureza pouco expansiva, a dificuldade em se expressar de improviso, o horror de falar em público por causa de sua gagueira, foram fatores decisivos para demovê-lo dessa idéia. Mas em 1866, quando a notícia foi publicada, ele não chegou a desmenti-la pelos jornais.

Também a revista ilustrada Pandokeu colaborou para divulgar essa pretensa candidatura de Machado de Assis. Na capa de sua edição de número trinta e oito, havia a caricatura de Machado, Quintino e Múzzio, onde eles eram apontados como canditados a deputados, impostos pela vontade do presidente da província mineira, Saldanha Marinho.

Logo, porém, o jornal Opinião Liberal corrigiu a notícia dada duas semanas antes, afirmando que “o Sr. Machado de Assis retirara a sua candidatura”. Joaquim Maria, porém, nunca fora candidato e jamais ocuparia qualquer cargo político em toda sua vida.

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