Largo do Rossio (Rio de Janeiro)
Praticamente nada deste período se sabe a respeito de Machado de Assis, uma vez que em seus textos ele não se refere a esta fase de sua vida, silenciando por completo os episódios que lhe sucederam. Há, porém, muita especulação por parte dos biógrafos. Afirmam que, além de coroinha, o menino teria estudado num colégio feminino, aprendido francês com um padeiro, tomado aulas particulares com um padre camarada. Sabe-se que Francisco José havia arranjado um serviço para o rapazinho, colocando-o como caixeiro (balconista) em uma papelaria da cidade, mas o trabalho não agradou a Joaquim Maria, que nele permaneceu por apenas três dias. Não apresentava temperamento para o comércio e desde cedo ele tinha certeza de que o seu destino estaria ligado às letras, apesar da oposição de seu pai.
Machado havia entendido que a única maneira dele conseguir mudar de vida seria através do estudo. Tem plena consciência de que a sociedade está dividida entre homens que possuem belas quintas, roupas novas e perfumadas, almoços e jantares fartos, sempre admirados e respeitados pelos seus pares, e homens que passam a vida toda se esfalfando num trabalho degradante, sujos, mal vestidos e mal alimentados. Bastava-lhe comparar como era a vida na casa de sua madrinha rica e a pobreza humilde que via na modesta casa de seus pais. Logo compreendeu que o destino não era justo e que para subir na vida e ter uma posição de destaque na sociedade, ele precisaria estudar com afinco e determinação, pois somente assim conseguiria atingir seus objetivos. Machado era um menino ambicioso, queria ser alguém, queria fazer parte daquele mundo que ele observava de longe e o único trampolim social que via diante de si era a instrução. Dotado de uma curiosidade intelectual inata, o rapazinho ia lendo tudo que lhe caía às mãos, buscando ajuda e conforto nos livros, os quais muito amava. Tanto que a única imagem que temos de Machado adolescente é dele segurando um livro, muito concentrado na leitura, enquanto vinha na barca de São Cristóvão para o centro. Talvez viesse para a Praça da Constituição - que é como se chamava ao tempo o Largo do Rossio - olhar a vitrine das livrarias, admirar aquele mundo urbano, cuja vida pulsava repleta de promessas e esperanças, tão próximo e ao mesmo tempo tão distante da periferia pobre em que vivia.