sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Carolina (1)

No dia 18 de junho de 1868, desembarcava em terras brasileiras Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã caçula do poeta satírico Faustino Xavier de Novais. Quem nos informa é Luiz Viana Filho, que encontrou o nome dela entre os passageiros do navio Estrémadure. Curiosamente, nenhum familiar de Carolina lhe acompanhou durante a viagem e ela veio para o Brasil na companhia do pianista Artur Napoleão, antigo vizinho dos Novais na cidade do Porto. Por muito tempo, acreditou-se que Carolina teria embarcado com destino ao Rio de Janeiro apenas para servir como enfermeira a seu irmão Faustino, que a cada dia piorava de sua doença, apresentando momentos de lucidez intercalados à loucura.

Segundo a tradição, Carolina veio ao Brasil após a morte de sua mãe e também foi se hospedar na casa de dona Rita de Cássia Calasans Rodrigues, senhora já sessentona, filha da Baronesa de Taquari, dona Maria da Conceição Calasans Rodrigues, morta dois anos antes e que já havia acolhido Faustino, tendo sido para ele como uma segunda mãe. Da mesma forma que em sua casa no Porto, que era freqüentada por literatos como Camilo Castelo Branco, Gonçalves Crespo e Guerra Junqueiro, também a residência de dona Rita de Cássia, situada no Rio Comprido, costumava abrir suas portas para a realização de tertúlias e muitos biógrafos de Machado de Assis afirmam que foi aí que o escritor conheceu sua futura esposa. Sem descartar esta hipótese, indicarei em breve uma outra possibilidade, endossado pelas palavras do próprio Machado de Assis.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Carolina (2)


    Carolina Jovem

     Nascida na cidade do Porto a 20 de fevereiro de 1835, tinha Carolina trinta e três anos quando chegou ao Brasil. Costuma-se afirmar de maneira leviana que ela teria sido uma moça feiosa. Quem defende este juízo, estriba-se basicamente no seguinte: num famoso retrato de Carolina, tirado aos quarenta e quatro anos de idade, quando ela já não era mais nenhuma menina; na opinião de Francisca de Basto Cordeiro, que conheceu Carolina numa época em que esta já era uma mulher madura; e no fato dela ainda não se encontrar casada aos trinta e três anos, idade em que as solteironas do século XIX já haviam perdido as esperanças de contratar casamento. Ora, tudo isso é muito precário para fornecer qualquer dado que seja a respeito de sua beleza. É possível que Carolina não fosse a mocinha mais bonita do Porto, mas Jean-Michel Massa afirma que ela foi muito cortejada e mais de um poeta dedicou-lhe versos apaixonados.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Carolina (3)



Carolina, esposa de Machado de Assis

      Sabe-se que Carolina era alta e tinha a pele muito branca, contrastando com os olhos e cabelos negros. Sua boca era fina, de traços horizontais e lábios pouco aparentes. Tinha o costume de falar baixo, quase sussurrando. Francisca de Basto Cordeiro diz que nunca a vira sorrindo e afirma que ela “dava impressão de mistério, como se tivesse sempre algo de grave a revelar”. Retraída, porém simpática em virtude da doçura que trazia nos olhos, Carolina era não só discreta, como uma mulher culta. Lúcia Miguel Pereira afirma que ela teria ajudado muito a Joaquim Maria, preenchendo-lhe as lacunas de cultura e até mesmo lhe corrigindo os textos. Esta afirmação não parece ser verdadeira, uma vez que, quando eles se casaram, Machado já era um escritor feito e não precisaria deste auxílio. Aos trinta anos, se Machado de Assis ainda não havia escrito nenhum de seus romances ou contos que lhe cobririam de glória mais tarde, a verdade é que ele já era um cronista experiente e pouco teria a aprender com sua esposa do ponto de vista gramatical ou estilístico. Que ela deve ter lhe ajudado no que diz respeito à colocação de um ou outro pronome átono não resta dúvida alguma. Carolina era a única pessoa a quem Machado mostrava seus originais, conforme ela própria afirmou: ele “não publica trabalho algum antes de dar-mo a ler”.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Luís Guimarães Júnior

         


Luís Guimarães Júnior

Machado fizera amizade com Luís Guimarães Júnior entre 1862 e 1863, conhecendo-o numa circunstância curiosa. Joaquim Maria vinha andando pela rua, quando foi abordado por um menino com não mais de dezesseis anos. O rapazinho disse-lhe que se chamava Luís, era poeta e acabara de escrever um pequeno livro que seria publicado por conta de seu pai e dedicado a ninguém menos do que ao próprio Machado de Assis. Disse ainda que estava de partida para São Paulo, onde iria estudar Direito (curso que ele completou no Recife), mas que não se preocupasse, pois já havia pedido ao pessoal da gráfica para lhe entregar um exemplar do livro assim que ficasse pronto. Machado recebeu o livro e logo depois deu a notícia dele numa crônica, escrevendo também para o próprio Luís Guimarães Júnior em agradecimento. Foi o início de uma íntima troca de correspondência entre eles e de uma sincera amizade que durou mais de 35 anos.