terça-feira, 29 de setembro de 2009

FAUSTINO XAVIER DE NOVAIS (4)

      Sabe-se que Faustino trabalhou no serviço de estatística da Praça do Comércio, uma espécie de bolsa de valores da época. Do dinheiro que ganhava, sempre remetia uma parte para seu pai, que continuava morando na cidade do Porto e agora passava por dificuldades financeiras. A morte de sua mãe em 1867 contribuiu para acelerar ainda mais a loucura de Faustino. Ele agora precisava de cuidados especiais e sua irmã, Carolina, veio também para o Brasil a fim de lhe servir como enfermeira. Vivia irritadiço e era comum esquecer nomes e as coisas. A conselho médico, Faustino e Carolina vão atrás de melhores ares em Petrópolis, mas todo esforço é em vão. Sem qualquer melhora, eles retornam ao Rio de Janeiro e vão morar numa casa de Ernesto Cibrão, localizada na rua Marquês de Abrantes. Camilo, que o havia citado em seu romance Eusébio Macário, afirmava que, ainda no tempo em que Faustino morava no Porto, ele apresentava momentos de “intermitências de tristeza negra”.

      Morre Faustino Xavier de Novais a 16 de agosto de 1869, pouco antes do casamento entre Machado e Carolina. Praticamente quase toda a edição de 29 de agosto da Semana Ilustrada, onde Joaquim Maria vinha colaborando desde 1860, foi dedicada ao desaparecimento do poeta, publicando-lhe nota biográfica, algumas de suas poesias e um poema que Machado de Assis escreveu em sua homenagem. Os dois haviam se conhecido no Grêmio Literário Português, através de Augusto Emílio Zaluar, e ficaram mais íntimos durante o convívio na redação da revista O Futuro.

sábado, 26 de setembro de 2009

AUGUSTO EMÍLIO ZALUAR


Augusto Emílio Zaluar nasceu em Lisboa no dia 25 de fevereiro de 1825. Machado de Assis o conheceu na sua juventude e tornaram-se bons amigos. Estudou Medicina durante algum tempo e, moço, emigrou para o Brasil. Escreveu diversos volumes de versos, contos e romances, mas seu único livro importante de fato que chegou até nossos dias é Peregrinação Pela Província de São Paulo. Naturalizou-se brasileiro e acabou recebendo o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa em 1876. Foi o redator-chefe do jornal O Paraíba, onde Machado iria colaborar assiduamente. Sobre Augusto Emílio Zaluar, narra Sacramento Blake um caso curioso. Estava ele traduzindo para um jornal fluminense o romance Moicanos de Paris, de Alexandre Dumas, à medida que chegavam os folhetins franceses ao Brasil. Romance enorme, que não acabava mais. A certa altura, Dumas interrompeu o romance por motivos particulares. O que fez Zaluar? Simplesmente terminou o romance por sua conta, dando a ele um final que Alexandre Dumas nunca teria imaginado. Pior de tudo aconteceu depois, quando o francês retomou o livro e os folhetins passaram a chegar novamente ao Rio de Janeiro. Augusto Emílio Zaluar não teve dúvidas e continuou sua tradução normalmente, como se já não tivesse rematado o livro meses antes. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro a 3 de abril de 1882.

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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

GRAZIELA

Um caso curioso ocorrido durante a temporada em que Machado e Carolina encontravam-se em Nova Friburgo (dezembro de 1878 a março de 1879) foi o desaparecimento da cachorrinha do casal. Chamava-se Graziela, nome retirado de uma heroína romântica de Lamartine e era uma tenerife branca, de pêlos felpudos e encaracolados. Como eles não tinham filhos, eram muito apegados a essa cadelinha, que teve seu lugar até mesmo no Memorial de Aires. Graziela dormia numa cesta de vime, que ficava ao lado da cadeira de braços “Romeu e Julieta”. Um dia, ela aproveitou um descuido de Clara, a empregada que ficara responsável por alimentá-la durante aquele período, descobriu o portão da casa aberto e fugiu para a rua. Tragédia! Ao serem informados daquela infelicidade por telegrama, Machado e Carolina ficaram transtornados. Imediatamente, Joaquim Maria mandou publicar na Gazeta de Notícias e no Jornal do Comércio um anúncio, prometendo dar uma recompensa de cem mil réis para quem trouxesse de volta a cachorrinha. Graziela foi encontrada no início de março para alívio do casal; ela ainda viveu na companhia deles por um bom tempo, tendo falecido em idade avançada, já quase cega e sem dentes. Certa feita, Joaquim Maria e Carolina deixaram de visitar a residência do casal Rodolfo Smith de Vasconcelos e sua esposa, a Baronesa Eugênia, aonde iam quase todas as noites para jogar e conversar. Indagada a respeito do motivo daquelas ausências, Carolina respondeu com olhos molhados: “A Graziela morreu...”. O próprio Machado de Assis enterrou a cadelinha com seu cesto e tudo no jardim da frente. Algum tempo depois, arrumaram outro cachorro, um pretinho de nome Zero, mas que não teve vida longa.

Machado adorava cães, sobretudo a Graziela, companheira de vários anos. Tanta afeição resultou num soneto, que o escritor escreveu em memória de sua querida cachorrinha. Intitulado “Um Óbito”, este poema jamais foi reunido em livro e é pouco conhecido, tendo sido publicado pela casa Lombaerts no seu famoso Almanaque das Fluminenses, para o ano de 1892:

“UM ÓBITO

Este silêncio inda me fala dela,
Como que escuto ainda os seus latidos,
Vagos, remotos, sons amortecidos,
Da vida que nos fez a vida bela.

Boa, coitada, boa Graziela,
Companheira fiel dos anos idos,
Querida nossa e nós os seus queridos,
Conosco dividiu a alma singela.

Tivemos de outras afeições que a asa
Do tempo, ingratidão, fastio, intriga,
Qualquer cousa desfaz, corrompe, arrasa.

Tudo se liga e tudo se desliga,
Mas porque não ficou em nossa casa,
Esta que foi nossa constante amiga?”

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SOCIEDADE INTERNACIONAL DE POETAS


No ano de 1874, Joaquim Maria recebeu uma carta que certamente o deixou muito orgulhoso. O remetente era o poeta francês Catulle Mendès e o assunto dizia respeito à fundação de uma espécie de clube literário mundial, que congregaria poetas e escritores de todo o planeta. Não se sabe ao certo como o francês descobriu o endereço de Machado de Assis, mas é provável que tenha sido através de Joaquim Nabuco, que se encontrava em Paris, onde deve ter conhecido Catulle Mendès, ou ainda através de Artur de Oliveira. A intenção do poeta era organizar uma filial na América Latina e ele deve ter sondado os intelectuais brasileiros que freqüentavam os círculos literários de Paris a respeito de quem seria a pessoa mais indicada no país para se desincumbir de tal tarefa. Naturalmente, fora ventilado o nome de Machado e Catulle Mendès logo lhe escreveu uma carta, explicando o projeto. Victor Hugo havia sido eleito presidente da Sociedade Internacional de Poetas e ele próprio ficara com o cargo de secretário-geral.

Machado de Assis entusiasmou-se com a idéia e logo procurou organizar a filial brasileira, entrando em contato com alguns poetas que lhe pareceram os mais representativos daquele período, como Joaquim Serra, Rosendo Moniz Barreto, Bittencourt Sampaio e Franklin Dória. Em carta a este, dizia:

“Meu caro amigo Sr. Dr. F. Dória - Precisava falar-lhe acerca de um assunto, que é todo relativo a poesia e poetas; em tais casos o seu nome é dos primeiros lembrados. Recebi uma carta do Sr. Catulle Mendès, distinto poeta da nova geração francesa, comunicando-me a existência de uma Sociedade Internacional de Poetas, sob a presidência de Victor Hugo, e já estabelecida na Áustria, Inglaterra, Itália e outros países; e convidando-me a iniciar aqui a seção brasileira. A carta veio acompanhada dos estatutos, que me parecem muito vantajosos para a poesia brasileira e seus cultores. Não sei se poderá fazer aqui o que o Sr. Catulle Mendès deseja; em todo caso precisamos entender-nos com alguns moços.”

Machado de Assis dedicou-se bastante a esta empresa, explicando aos poetas a importância de tal sociedade. Porém, todo o seu esforço foi em vão, pois o projeto não foi adiante no Brasil.