sábado, 31 de outubro de 2009

FAUSTINO XAVIER DE NOVAIS (2)

    
      O comendador Rodrigo Pereira Felício, futuro Conde de São Mamede, viaja para a Europa em companhia de sua esposa, Joana Maria, antiga aluna do Colégio das Meneses, que conheceu Machado de Assis baleiro. Em Portugal, Rodrigo Pereira Felício trava boa amizade com Faustino, sugerindo que ele venha conhecer o Brasil. O poeta bem que gostaria, mas não tem como arcar com os custos da viagem. Passam-se três anos e Rodrigo compra passagens de navio para o poeta e sua senhora, enviando-as de presente para eles. Em 2 de junho de 1858, poucas semanas antes da chegada de Ribeyrolles ao Rio de Janeiro, Faustino Xavier de Novais e sua esposa Ermelinda desembarcavam no Brasil, tendo viajado a bordo do navio Tamar. Casimiro de Abreu dá as boas-vindas ao poeta em versos:

“Bem-vindo sejas, poeta
A estas praias brasileiras!
Na pátria das bananeiras
As glórias não são demais:
Bem-vindo, ó filho do Douro,
À terra das harmonias!
Quem tem Magalhães e Dias
Bem pode saudar Novais!”

     Porém, pouco tempo a esposa do poeta suportou a nova vida. Já em 1860, Faustino despacha-a de volta a Portugal. A partir de 1862, o poeta hospeda-se no Rio Comprido, em casa de dona Rita de Cássia Calasans Rodrigues, filha solteirona e cinqüentona da Baronesa de Taquari, dona Maria da Conceição Calasans Rodrigues. Escreve constantemente cartas a Camilo Castelo Branco, dizendo-lhe que não possui um vintém sequer, mas tem casa e comida de graça. Numa dessas cartas, o autor de Amor de Perdição confessa que, se seus problemas se agravassem e ele tivesse de escolher entre o suicídio e o Brasil, era capaz dele escolher o Brasil. Faustino não se acostumava com os hábitos da terra e escrevia ao amigo coisas horríveis a respeito do Rio de Janeiro e sua gente. Tanto que Camilo preferiu não vir para o Brasil, escolhendo anos mais tarde o suicídio.



Camilo Castelo Branco, que preferiu o suicídio
a vir para o Brasil.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

FAUSTINO XAVIER DE NOVAIS (3)



     Na residência da Baronesa de Taquari, Faustino fez amizade com muitos intelectuais do tempo, pois aí se costumava realizar um dos melhores salões lítero-musicais do Rio de Janeiro. A idéia de Faustino era enriquecer no Brasil e, novamente com a ajuda de Rodrigo Pereira Felício, abre uma casa comercial na rua Direita, n. 66, onde se vendia um pouco de tudo, desde livros e artigos de papelaria até perfumes e charutos. Faustino tinha barba passa-piolho, que foi a primeira barba do romantismo (somente no tempo da Guerra do Paraguai é que apareceram os cavanhaques e as suíças). Um de seus passatempos preferidos era tocar flauta. Poeta sem grande talento, mas hábil versejador, Faustino deixou algumas poesias que se tornaram populares, como esta que ele escreveu num álbum:


“Num álbum escrever é negra empresa,
De que o vate jamais sai triunfante.
Se é no canto singelo, - é ignorante,
Se é pomposo, - renega a natureza.

Se não cita ninguém mostra pobreza,
Se faz mil citações é um pedante;
Se é pródigo em louvor, - repugnante,
Se não louva, - não tem delicadeza.

Se dá cantos de amor, - é um baboso,
Se em prosa escreve só, - quer ser rogado,
Se escreve prosa e verso, - é orgulhoso.

Se enche muito papel, - é um desalmado,
Se breve assunto escolhe, - é preguiçoso,
Se recusa escrever, - é um malcriado.”