terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O COROINHA JOAQUIM MARIA




Igreja da Lampadosa (Jean Baptiste Debret - 1826)

          Foi um dos amigos da juventude de Machado de Assis, Francisco Ramos Paz, quem informou o biógrafo Alfredo Pujol que o escritor teria sido sacristão na igreja da Lampadosa. Esta é outra das inverdades que se costuma dizer a respeito do autor de Quincas Borba. Os investigadores da vida de Machado esmiuçaram todos os arquivos da velha ermida em busca de algum papel mofado que pudesse elucidar o caso. Trabalho em vão. Nunca se achou qualquer referência de que o escritor tenha ocupado tal ofício nesta igreja. Muito provavelmente foi coroinha, tocara sinos, ajudara missa e mais nada.
          A igreja da Lampadosa localizava-se perto da Praça da Constituição, junto à célebre casa que pertenceu a José Bonifácio. Ao final do dia, Machado deveria receber uma moeda e, feliz da vida, ia olhar as vitrines das lojas que vendiam livros. Ali perto ficava uma livraria famosa naquele tempo, a livraria de Paula Brito, que seria o primeiro grande incentivador de Joaquim Maria. O menino, tímido e receoso, deve ter entrado na loja muitas vezes para não comprar nada, apenas observar os livros nas estantes e as pessoas que freqüentavam o estabelecimento. Quanta gente importante comparecia àquela livraria, políticos de prestígio e escritores de renome!
          Coroinha ou sacristão, a verdade é que todo o tempo que ele permaneceu vinculado à igreja marcou-lhe definitivamente o espírito, tanto que há inúmeras referências ligadas ao universo cristão em sua obra. A própria igreja da Lampadosa é citada de maneira explícita no conto “Fulano”, publicado no livro Histórias Sem Data. Com o tempo, Machado tornou-se agnóstico, mas sempre escreveu sobre a igreja e assuntos religiosos com o mais profundo respeito. Verdade que alguma vez procurou satirizar a decadência dos costumes do clero, mas a sua crítica sempre buscava golpear os aspectos exteriores da religião e nunca a sua essência.

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