segunda-feira, 21 de setembro de 2009

GRAZIELA

Um caso curioso ocorrido durante a temporada em que Machado e Carolina encontravam-se em Nova Friburgo (dezembro de 1878 a março de 1879) foi o desaparecimento da cachorrinha do casal. Chamava-se Graziela, nome retirado de uma heroína romântica de Lamartine e era uma tenerife branca, de pêlos felpudos e encaracolados. Como eles não tinham filhos, eram muito apegados a essa cadelinha, que teve seu lugar até mesmo no Memorial de Aires. Graziela dormia numa cesta de vime, que ficava ao lado da cadeira de braços “Romeu e Julieta”. Um dia, ela aproveitou um descuido de Clara, a empregada que ficara responsável por alimentá-la durante aquele período, descobriu o portão da casa aberto e fugiu para a rua. Tragédia! Ao serem informados daquela infelicidade por telegrama, Machado e Carolina ficaram transtornados. Imediatamente, Joaquim Maria mandou publicar na Gazeta de Notícias e no Jornal do Comércio um anúncio, prometendo dar uma recompensa de cem mil réis para quem trouxesse de volta a cachorrinha. Graziela foi encontrada no início de março para alívio do casal; ela ainda viveu na companhia deles por um bom tempo, tendo falecido em idade avançada, já quase cega e sem dentes. Certa feita, Joaquim Maria e Carolina deixaram de visitar a residência do casal Rodolfo Smith de Vasconcelos e sua esposa, a Baronesa Eugênia, aonde iam quase todas as noites para jogar e conversar. Indagada a respeito do motivo daquelas ausências, Carolina respondeu com olhos molhados: “A Graziela morreu...”. O próprio Machado de Assis enterrou a cadelinha com seu cesto e tudo no jardim da frente. Algum tempo depois, arrumaram outro cachorro, um pretinho de nome Zero, mas que não teve vida longa.

Machado adorava cães, sobretudo a Graziela, companheira de vários anos. Tanta afeição resultou num soneto, que o escritor escreveu em memória de sua querida cachorrinha. Intitulado “Um Óbito”, este poema jamais foi reunido em livro e é pouco conhecido, tendo sido publicado pela casa Lombaerts no seu famoso Almanaque das Fluminenses, para o ano de 1892:

“UM ÓBITO

Este silêncio inda me fala dela,
Como que escuto ainda os seus latidos,
Vagos, remotos, sons amortecidos,
Da vida que nos fez a vida bela.

Boa, coitada, boa Graziela,
Companheira fiel dos anos idos,
Querida nossa e nós os seus queridos,
Conosco dividiu a alma singela.

Tivemos de outras afeições que a asa
Do tempo, ingratidão, fastio, intriga,
Qualquer cousa desfaz, corrompe, arrasa.

Tudo se liga e tudo se desliga,
Mas porque não ficou em nossa casa,
Esta que foi nossa constante amiga?”

6 comentários:

Diego Fernandes de Oliveira disse...

Legal o poema, acredito que os cães fazem parte de nossas vidas.Para Machado não fora(adoro pretérito mais que perfeito, não tem jeito!)diferente.

Tim Marvim disse...

É isso aí, Diego, obrigado pela visita e volte sempre, meu caro!!!

Joelson Gomes disse...

José Antonio, obg pela visita ao GRAÇA PLENA,obg tb pelos links,Deus te abençoe e volte sempre.

Joelson Gomes

Anônimo disse...

um ótimo lugar para eu vir... todas as vezes que eu for atacada por esses demônios que me assombram, aqui recorrerei! bjo

Tim Marvim disse...

Obrigado, Joelson Gomes e Pia Fraus pela visita. Gostei muito de recebê-los em meu humilde blog. Voltem sempre que puderem. Abraços!!!

nilo da silva moraes disse...

Parabéns pelo blog do maior escritor brasileiro de todos os tempos.